O que esperar de quem foi criado para não sentir dor, para matar e não
usar o coração? Hoje eu poderia escrever várias histórias e descrever tantos
personagens, que o resumo da ópera seria o mesmo. Como se diz o ditado popular “Quem se junta com
porco, farelo come”. Não importa se eu posso escrever sobre; a Velha e o
Gigolô, A Ladra e o Agiota, A Herdeira e o Desertor, A Procuradora e o
Playboy, A Loba e o Cordeiro ou A Policial e o Soldado. Os protagonistas de
todo este elenco são caracterizados pelos mesmos sentimentos de vazio.
Você realmente atrai o que transmite. Porém, nem sempre é recíproco. É
importante ter muito mais do que sabedoria para entender que amor não é
encenação. Como diz Chico Buarque, “Saiba que os poetas como
os cegos podem ver na escuridão”. Por um momento pensei que o amor
poderia iluminar aquele cenário obscuro. Que o olhar, a janela da alma, mesmo
no vazio, precisava de amor. Até que as tentativas se tornaram crescentes. O
perdão foi desdenhado, as lágrimas como tempestades em meio a tantos valores
deturpados. Porque o egoísmo esteve sempre em primeiro plano. Nas cenas, era
mais importante desejar que o outro vivesse como um fantoche de exigências
frívolas, do que na liberdade apenas de viver e sentir. Mas o amor nunca morre
ou acaba, porque o amor é um estado de consciência.
O mal é um sentimento tão mesquinho que morre do seu próprio veneno.
Enquanto o bem se deleita na paz de viver. Era como se o amor tivesse
despertado todos os buracos no palco da vida. Como se os textos de gravação
fossem apenas sobre dúvidas, cobranças, medo, e culpa. Como se o amor tivesse
desencavado todas as dores do tempo. Como se o amor tivesse escancarado os
erros do passado. Como se o amor mostrasse que ali não havia amor. Sendo
o amor; leveza, coragem, fidelidade, despretensão material de status ou do
externo. O amor se basta apenas em sentir. E sentir mais vontade de viver do
que fugir. E não sente amor quem se doa pela metade, ou menos que isso. O
poetinha que diga, “Para viver um grande amor, primeiro é preciso
sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro”.
A gente aprende mais com os erros dos outros. Ao depositar amor no vazio
é visível o desequilíbrio dos sentidos. Confúcio afirmou o certo, “Mil dias não bastam
para aprender o bem; mas para aprender o mal, uma hora é demais". Na
falta de amor qualquer palavra é dúvida, qualquer dúvida é medo, qualquer medo
é culpa, qualquer culpa é fuga. E são nessas horas que o tempo acumula um
enorme peso na vida. O auto-centramento não permite se colocar no ponto de
vista do outro. Quem pratica maldade não confia na bondade alheia. Neste caso,
Freud explicaria em ‘projeção’, o fato de culpar o outro por um fracasso
próprio. É mais fácil criticar o outro do que fazer melhor. Mas o bem prevalece
por compreender tudo de ruim como aprendizado. Se todos se questionassem: O que
eu quero vem do meu coração ou do meu ego? Contribuiriam para o afeto.
Quando a gente encerra um ciclo, enrola o tapete, muda o foco, reescreve
uma nova peça, acabamos analisando melhor tudo que passou. Quando não existe
mais o “olhar” é porque nem mais a tentativa de amor pode ajudar. Não seja
plateia do desamor. Está tudo no fundo, na coxia, no escuro. O defensivo
não está receptivo para a compaixão. Esta nobreza é para poucos! Abrir o
coração para ouvir o outro sem julgá-lo, é um ato de respeito, muito raro.
Perdoar, explicar, aceitar, desculpar, são atos que o orgulho não se faz
presente. Conversar não é uma luta de poder e culpar o outro não mantém a luta
viva. Porque onde há vítima de verdade, há cansaço, o que permite o afastamento
de más sensações incapacitantes. É só assim, quando você fecha os olhos e sente
o universo conspirando a seu favor, com sua consciência, que é construído o
senso de valor. Devemos amar sempre a nós mesmos, antes de qualquer outro, e
quando amar o outro não nos dedicar por completo, mas sempre por inteiro. E
principalmente, jamais deixar de acreditar no amor.
3 comentários:
Senta e Chora!
Dani, me identifiquei bastante com o texto. Na realidade poucos são passíveis de amar. Diante disso, lembro de um texto que gosto muito (vou colar pra você ler). Parabéns pelo texto! beijos!
'A palavra coragem é muito interessante. Ela vem da raiz latina cor, que significa "coração". Portanto, ser corajoso significa viver com o coração. E os fracos, somente os fracos, vivem com a cabeça; receosos, eles criam em torno deles uma segurança baseada na lógica. Com medo, fecham todas as janelas e portas – com teologia, conceitos, palavras, teorias – e do lado de dentro dessas portas e janelas, eles se escondem.
O caminho do coração é o caminho da coragem. É viver na insegurança, é viver no amor e confiar, é enfrentar o desconhecido. É deixar o passado para trás e deixar o futuro ser. Coragem é seguir trilhas perigosas. A vida é perigosa. E só os covardes podem evitar o perigo – mas aí já estão mortos. A pessoa que está viva, realmente viva, sempre enfrentará o desconhecido. O perigo está presente, mas ela assumirá o risco. O coração está sempre pronto para enfrentar riscos; o coração é um jogador. A cabeça é um homem de negócios. Ela sempre calcula – ela é astuta. O coração nunca calcula nada.
Sempre que houver alternativas, tenha cuidado. Não opte pelo conveniente, pelo confortável, pelo respeitável, pelo socialmente aceitável, pelo honroso. Opte pelo que faz o seu coração vibrar. Opte pelo que gostaria de fazer, apesar de todas as consequências.''
(Osho)
Sem palavras... Você sempre acerta.. Só lagrimas...
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