Eco



Amava quando a gente se olhava e o mundo parava, o entrelaçado das mãos que parecia me proteger do mundo, aquele cafuné que dedilhava como se meus cabelos fossem notas musicais, aquele ritual com o qual nossos corpos dançaram tantas vezes e todas aquelas manias que o dengo fazia na mansidão. Eu amava aquilo que eu era, disposta e inteira em tudo que fazia.  Eu me jogava na estrada seguindo os passos do desconhecido, eu largava tudo para segurar o esforço e eu sempre ia abdicando cada dia de um novo sonho, eu ia para aprender mais uma lição. Amava quando nos abraçávamos pensando em futuro, quando as palavras faziam sentido e quando o olho no olho tinha validade para o que é verdadeiro ou falso. Eu gostava até daquelas armadilhas do destino que tanto humanizei para estar perto, fazendo valer os votos de união; na alegria e na tristeza. No bom e no ruim.  E quando vi eu tinha criado um presente sozinha, tudo fazia parte da minha projeção, a realidade tantas vezes me abrira a janela, mas eu só queria ver o horizonte do que eu acreditava ser verdadeiro. Eu tinha perdoado o que poucos perdoariam, eu tinha me doado mais que inteira, eu tinha abdicado de mim. Eu errei e errei feio, não por mentira, deslize, traição ou bobagem. Mas por sufocar-me na entrega, em nunca renunciar a falta, em estar sempre alí à espera. E mais, em ouvir “absurdagens” e só virar o bico e não dar as costas. Em gritar aos quatro cantos do mundo que eu andava de mãos dadas com quem só sabia andar sozinho. Eu estava sempre de frente com o peito aberto, recebendo vertigem. E foi aí o meu erro, depositei tudo de melhor que tenho no vazio e esvaziei.  

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